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Welcome to our publication platform! You can browse and search for stories and samples from all our writers. Thanks to our translators, each story is available in Czech, Dutch, Italian, Polish, Portuguese, Romanian, Serbian, Slovene and Spanish. Throughout the years, this platform is becoming a growing archive of European literature by the future generation of literary artists. We're sharing stories beyond barriers.

Não Deem Comida aos Macacos

Luz estava há mais de meia hora à espera ao sol. De vez em quando,  percorria o passeio de um extremo a outro para desentorpecer as pernas e  aliviar o peso da barriga. Os seus olhos moviam-se com rapidez entre os  carros que circulavam pela avenida, especialmente quando se ouvia uma  aceleradela. Mas nada.        Decidiu refugiar-se do calor debaixo do beiral do edifício. Foi  então quando, de trás de um autocarro, apareceu ziguezagueando o  pequeno carro vermelho. Luz viu como Jaime travava bruscamente e se  punha a tocar a buzina repetidas vezes, como se estivesse há muito tempo  à sua espe...
Translated from ES to PT by Matias Gomes
Written in ES by Roberto Osa

O exílio

A cama era como uma caravela que trespassava as águas da noite. Abraçados, ambos tinham a textura de uma onda sombria, iluminada, de vez em quando, por um raio de luz. A caravela flutuava serena e misteriosa, e à volta a paisagem era apenas a infindável extensão das águas, sem que esta fosse assustadora. Tinham-se reencontrado há pouco tempo. Por vezes, jogavam ténis. Às vezes bebiam mesmo uma cerveja depois. Tais camaradagens efémeras aconteciam muitas vezes entre os empregados solitários que tinham sido transferidos para aquela cidade. Geralmente, preferiam transferir solteiros. Contudo, cu...
Translated from RO to PT by Simion Doru Cristea
Written in RO by Anna Kalimar

Torcidos

Naquela noite chamava-me, e não parecia que fosse parar. — Mamã. Mamã!  Dizia-o assim, oferecendo-o a mim e ao quarto enquanto se encolhia  numa escuridão de cera, cheia de brinquedos (a sua única propriedade).  Voltou a gritar-mo, com muito mais força, e então afastei o olhar e acariciei  o copo de uísque, mesmo debaixo da base, até que a humidade passou para  a ponta do dedo.  A palavra estava bem cosida ao seu cérebro desde bebé.  Fiquei muito quieta enquanto observava a forma brilhante e obsti nada da gota. Não era um crime deixar que aprendesse a sentir frio, ou  como tragá-lo. Imaginava ...
Translated from ES to PT by Matias Gomes
Written in ES by Matías Candeira

Como nos tornaremos menos

1. Na sua sala de estar, encontra-se pendurado, para além de um calendário, a conta de um restaurante onde tinham decidido ficar juntos e algumas fotografias, uma lista de todos os animais e plantas que se encontram em risco de extinção: 3.079 e 2.655, respetivamente. Ela já tinha esta lista desde os seus treze anos, e, por ausência de autocolantes, tinha colocado pensos junto aos animais que desejava ver. Ele pensou que se tratasse de uma lembrança da infância dela e nunca tinha considerado a possibilidade de irem à procura de animais e plantas em risco de extinção. Quando um novo animal entr...
Translated from NL to PT by Pedro Viegas
Written in NL by Rebekka de Wit

Árvore Monstro Menino Árvore

Ainda não sabemos como Óscar comeu a semente, nem descobrimos de  onde a tirou. Temos ainda menos respostas para percebermos como pôde a  árvore crescer-lhe por dentro, germinar a semente sem qualquer  impedimento, disse o médico, na boca do seu estômago, regada somente  pelos sucos biliares do menino. É que aos sete anos, também nos disse o médico, os estômagos funcionam muito bem. O corpo do nosso Óscar —  ainda era o nosso Óscar então — permitiu que a árvore crescesse, que as  raízes se estendessem pelos intestinos e que o tronco se fosse distendendo  esguio, cerimonioso, ao longo do esófag...
Translated from ES to PT by Matias Gomes
Written in ES by Mariana Torres

Os Seres Vivos

Capítulo 1 A mamã morreu sozinha e devagar. A causa da morte, dizem os médicos,  foi uma intoxicação. A mamã intoxicada. Grande estupidez. Não discuti  com os médicos, limitei-me a assinar os papéis e a tratar do enterro. Se havia  algo que a minha mãe conhecia bem era a sua farmácia. Sempre foi exata  com as doses. Não se enganava. À menina, por enquanto, contamos-lhe a  versão oficial, a da intoxicação. Um dia contar-lhe-ei eu mesma que a avó  dela se suicidou.   A menina esteve presente em todos os momentos, depois de lhe dar  a notícia levámo-la ao tanatório. Esteve colada às minhas perna...
Translated from ES to PT by Matias Gomes
Written in ES by Mariana Torres

O Império Romano em 100 Datas

9  11 de setembro. No final de uma sangrenta batalha que durou mais de três  dias na floresta de Teutoburgo, na Alemanha Setentrional, três legiões  romanas inteiras, comandadas pelo governador Públio Quintílio Varo, são  aniquiladas por uma coligação de populações germânicas chefiada por  Armínio, chefe da tribo dos Queruscos. O choque que a notícia provoca  em Roma é enorme: na sequência da derrota, Augusto decide evacuar  todos os territórios compreendidos entre o Reno e o Elba, conquistados  por Druso e depois por Tibério (os filhos da mulher, Lívia, nascidos do  primeiro casamento com Ti...
Translated from IT to PT by Ana Cristino
Written in IT by Fabio Guidetti

Ponto de fuga

Trata-se da história de um homem que não quer perder o caminho para  casa. Ele é feito de massa de pão. Parte de casa. À medida que vai  caminhando, retira uma migalha de si próprio e deixa-a cair no chão.  Começa por retirar um dos braços. De seguida, as orelhas. O nariz. Mais  tarde, arranca uma parte da barriga, surgindo um buraco. Na cena  seguinte, olhamos através do buraco da barriga do homem. Através do  buraco da barriga dá para ver, à distância, uma casa pequena. Atrás da  janela, vê-se uma mulher idosa à mesa. A mulher encontra-se a amassar  massa de pão. Música comovente. Fim.  Trat...
Translated from NL to PT by Pedro Viegas
Written in NL by Maud Vanhauwaert

Finalmente tens um quarto só para ti

Estou desconfortável, mas sem arriscar mexer-me para não te acordar.  Alongo as costas e atenuo a moinha. Estou meio sentado na borda da  cama, deixando o colchão à tua disposição. Caíste num sono profundo e  aproveito para te afagar os cabelos com meiguice. Não gostas que o faça  quando estás acordado.   Era no sofá que me desforrava. Nos momentos em que quase  adormecias, embalado por um dia de correrias e brincadeiras, punha-te a  ver desenhos animados. Nessa altura, enchia-te de cafunés. Aceitavas os  meus mimos por estares num estado de semiconsciência. Deixavas-te estar,  chuchando ruido...
Written in PT by João Valente

Natalya

Assim que soube que o problema era evasão fiscal liguei ao meu  contabilista  ó Zeferino, mas que porra é esta, tu explica-me lá que porra é esta,  disseste-me que tinhas tudo sob controlo, para ignorar as cartas das  finanças que tratavas de tudo, tu explica-me que porra é esta, e à Misé, a quem há apenas dois dias dera um anel de zircónio muito  decente,  temos de devolver a jóia, princesa, depois explico-te  lavei o bucho com dois calmantes e meia garrafa de vodka, estendi-me no  sofá e meti o portátil no chão a vomitar folhas de Excel para que, na  eventualidade de alguém chegar, a minha i...
Written in PT by Valério Romão

Os Meninos Escritores

Quase tudo o que aconteceu nesse dia passa-se aqui. Estou com o indicador  apontado à cabeça. Muitos anos depois, enquanto levo o meu filho a  descobrir o gelo, ainda recordo todos os acontecimentos daquele único dia  como «o fuzilamento».  Ninguém morreu. As pessoas eram perigosas, especialmente as  crianças pequenas, penduradas nas árvores. Os pés a balançar — e era da  língua no meio da boca que viriam os piores crimes.   Ouvir dói, caminhar é um truque. Caminhemos.   Mesmo os pequenos ditadores envelhecem. Os filhos coabitam a  terra com os pais, há milhões, talvez milhares de anos. Imagin...
Written in PT by José Gardeazabal

Parêntesis

      Suponho que nem o que temos de mais fiável - os sentidos, isto é, o que vemos, ouvimos, aquilo de que nos apercebemos com o corpo - é fiável em situações como a morte de um pai, o nascimento de um filho ou estar prestes a  morrer atropelado. Agora, que já enterrámos o papá, e estou por fim sozinho com os meus pensamentos, constato que ontem, no tanatório, tal como há trinta anos atrás, o tempo parou.  Por uns segundos, sim. Mas aconteceu outra vez. E soube, imediatamente, que se tratava do mesmo fenómeno que vivi em criança.        Naquela noite também estava com o papá.        Aconteceu...
Translated from ES to PT by Matias Gomes
Written in ES by Mariana Torres

Um Anjo

– Xiu, olha, lá vem.  Os homens sustêm o fôlego, imobilizados, contra a arcada. Pela sua  frente passa uma mulher com uma capa verde, mala, sapatos e luvas de pele  de serpente. Os saltos altos transmitem um som agudo e do seu cabelo  preso ao alto caem algumas madeixas. O passeio está cheio de gente que  vem das compras, e a mulher sobressai, discordante, com o seu luxo fora do  comum. Porém, ninguém lhe assobia, até mesmo algumas pessoas lhe dão  passagem ao chegar.  – Lá vem ela agora – murmura o homem mais velho, e os dois  furam atrás dela.  Seguem-na a uma distância suficientemente grand...
Translated from RO to PT by Simion Doru Cristea
Written in RO by Anna Kalimar

E lá longe Dedos Dez

POLEGAR  Mesmo estando no décimo segundo andar, consegues ouvir o barulho das  obras. Estás a lavar a louça. Rebolaste para fora da cama, vestiste uns boxers  e, de tronco nu e sem meias, começaste a lavar a louça. Como não saiu logo água quente da torneira, esqueceste-te de abrir a torneira da água fria, pelo  que a água ficou demasiado quente, magoando-te as mãos. Quando as tiras   debaixo de água, ficam vermelho-vivas.  A banca está toda coberta de louça suja. Também no chão da cozinha estão  panelas, travessas de vidro e pilhas de pratinhos com requeijão ressequido  nas bordas. O chão da ...
Translated from NL to PT by Xénon Cruz
Written in NL by Joost Oomen

Bárbaros no Império Romano

Porque caiu o Império Romano? Esta pergunta atormentou a civilização  europeia em toda a sua história, a par (de modo por vezes explícito, por  vezes subentendido) com a reflexão sobre as consequências que aquele  acontecimento longínquo tem no presente. Impressionados pelas ruínas  monumentais de Roma e instruídos sobre a sua herança imaterial, olhámos  com admiração as suas conquistas económicas, tecnológicas e culturais: e  perguntámo-nos qual teria sido a evolução da civilização ocidental se a  queda do Império não tivesse modificado as condições individuais de vida  e redimensionado drast...
Translated from IT to PT by Ana Cristino
Written in IT by Fabio Guidetti

Como pode medir-se o tempo?

Como pode medir-se o tempo? É possível compreender verdadeiramente esta categoria do pensamento e da realidade, que nos escapa continuamente no preciso momento em que procuramos compreendê-la? No nosso mundo, no qual relógios e calendários estão acessíveis em poucos segundos a quem quer que seja, é difícil imaginar o que significaria viver sem saber o momento, a hora, o dia em que se estava. Ainda nos tempos dos nossos avós, apenas os mais ricos e os mais instruídos podiam ler um jornal e ter um relógio de bolso: para aqueles que viviam e trabalhavam no campo, a perceção do passar do tempo era...
Translated from IT to PT by Ana Cristino
Written in IT by Fabio Guidetti

Chiclete Blues

23,40 euros. É esse o montante que figura, em algarismos verde-alface, na  registadora do guiché. Umas mãos pálidas e enrugadas colocam  cautelosamente, uma por uma, as moedas amarelas e castanhas na gaveta  do dinheiro, ao lado de uma nota de vinte euros. Logo a seguir, as mãos  fecham a pequena carteira em pele, ao mesmo tempo que uma voz  condicente de senhora emite sons apaziguadores.  — Calma, também te vão dar um bilhete — cochicha a senhora ao  seu cão, que, tal como ela, permanece fora do alcance do nosso olhar. Quando a gaveta se volta a abrir, as moedas desapareceram e, no  lugar del...
Translated from NL to PT by Xénon Cruz
Written in NL by Carmien Michels

O tempo é um circo

De madrugada, sonhou com um crime cometido sob uma amendoeira e quatro bilhetes de lotaria, todos sem prémio. Era domingo. No sonho, o jovem médico chorou e despertou com as bochechas húmidas, abraçado por uma tristeza púrpura. Come sem apetite, veste-se de luto e espera pelo telefonema que deveria confirmar quem morreu nessa noite. O seu avô nascera perto do início do século XX num mundo demasiado longínquo para que as pessoas tivessem mantido algumas fotografias dele. O pai do seu avô tinha falecido trinta anos antes do jovem médico nascer. Ele vinha de um tempo ainda mais antigo, quando os ...
Translated from RO to PT by Simion Doru Cristea
Written in RO by Andrei Crăciun

Revolta inversa

A sua vida com Carmen Ottomany começara muito abruptamente nos  finais do décimo primeiro ano. No dia em que tinha decidido deixar a  cidade, procurou uma fulana alta da turma mais próxima, uma tal Fahrida  (o seu pai era do Irão), mas que se apresentava como Frida. Saiu da cidade  pois estava convencido de que ao partir os limites ficariam para trás, uma  convicção absurda, mas se alguém nunca a tiver será digno de piedade. Foi  encontrar a tal Frida entre um grupo de raparigas nas traseiras de um  prédio, fumando e rindo. Fumava-se naqueles tempos, mesmo nos liceus  dos snobes como era o Sub...
Translated from RO to PT by Simion Doru Cristea
Written in RO by Cătălin Pavel

Residence

Apartamento 11  O MENINO  Aquele menino, olhai bem para ele.  Todos os verões, aquele menino tem mais um ano.  Todos os verões, o castanho dos seus cabelos é aclarado pelo sol num  vermelho ténue, de reflexos claros. Todos os verões, de manhã, enche os  pneus da sua BMX e pedala dentro da Residence, ao longo do muro de  pedra atrás do qual se esconde e espia os da sua idade escoicear uma bola no  campo de terra batida. Gritam palavrões de todo o tipo. Palavrões que o menino nunca disse.  A Residence é composta por dois pequenos edifícios de três pisos,  idênticos. Um o reflexo do outro. A div...
Translated from IT to PT by Ana Cristino
Written in IT by Maurizio Amendola