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Welcome to our publication platform! You can browse and search for stories and samples from all our writers. Thanks to our translators, each story is available in Czech, Dutch, Italian, Polish, Portuguese, Romanian, Serbian, Slovene and Spanish. Throughout the years, this platform is becoming a growing archive of European literature by the future generation of literary artists. We're sharing stories beyond barriers.
Em casa
O moinho, o caminho para o rio, o poço, os cavalos, as vacas e o trigo. Os baldes rachados cheios de tomates vermelho vivos, os boiões com as tampas bem apertadas cheios de legumes em pickles para o inverno. O estreito rio Severski Don, que alinha os campos todos, que empurra a Rússia contra a Ucrânia, que mantém o mapa unido, da mesma maneira que o meu bisavô Nikolaj cose os casacos com agulha e linha. O vento nas velas do moinho, as meninas do komsomol na praça central da aldeia. Dançam. De braço dado mantêm-se em equilíbrio inclinando o corpo para o lado e elevam-se do chão exatamente com a...
Translated from
NL
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PT
by Lut Caenen
Written in NL by Lisa Weeda
Fios
A procura não começa de forma consciente. Sinto-me ligada a ela de uma forma perturbadora, inexplicável, e o seu desaparecimento deixa-me sozinha frente às minhas interrogações. Ao acordar pergunto-me onde dormirá e como vive e continuo a pensar nela, masturbando-me doce e suavemente entre os lençóis enquanto olho para as nuvens pela janela basculante. Quando passo pelas barracas de fruta no nosso bairro, vou tocando nas laranjas com as pontas dos dedos, até que encontro uma que me lembra a sua pele, uma com os poros perfeitos.
Aterrei nas suas aulas de yoga devido às minhas constantes dores ...
Translated from
NL
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PT
by Lut Caenen
Written in NL by Hannah Roels
Depois da Última Ceia
Têm sido dias fantásticos. Morrer é assim, lembro-me de cada minuto. É como se estivesse deitado sobre o mapa do agora, em alto relevo. Estou de costas, para sentir cada pico de montanha, cada vale, todas as planícies. A vida não corre para a frente nem para trás, é só agora, agora, agora. Ao fim de algum tempo sinto uma dor extremamente localizada, tal qual um punhal, e fico extraordinariamente acordado, como no instante em que o juiz me condenou à morte. Morrer é assim, acontece várias vezes, mas uma delas é a definitiva. A sensação de fim pode durar muito tempo, comigo dura desde o anúncio ...
Written in PT by José Gardeazabal
Os Seres Vivos
Capítulo 1
A mamã morreu sozinha e devagar. A causa da morte, dizem os médicos, foi uma intoxicação. A mamã intoxicada. Grande estupidez. Não discuti com os médicos, limitei-me a assinar os papéis e a tratar do enterro. Se havia algo que a minha mãe conhecia bem era a sua farmácia. Sempre foi exata com as doses. Não se enganava. À menina, por enquanto, contamos-lhe a versão oficial, a da intoxicação. Um dia contar-lhe-ei eu mesma que a avó dela se suicidou.
A menina esteve presente em todos os momentos, depois de lhe dar a notícia levámo-la ao tanatório. Esteve colada às minhas perna...
Translated from
ES
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PT
by Matias Gomes
Written in ES by Mariana Torres
Como nos tornaremos menos
1.
Na sua sala de estar, encontra-se pendurado, para além de um calendário, a conta de um restaurante onde tinham decidido ficar juntos e algumas fotografias, uma lista de todos os animais e plantas que se encontram em risco de extinção: 3.079 e 2.655, respetivamente. Ela já tinha esta lista desde os seus treze anos, e, por ausência de autocolantes, tinha colocado pensos junto aos animais que desejava ver.
Ele pensou que se tratasse de uma lembrança da infância dela e nunca tinha considerado a possibilidade de irem à procura de animais e plantas em risco de extinção.
Quando um novo animal entr...
Translated from
NL
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PT
by Pedro Viegas
Written in NL by Rebekka de Wit
Dicionário do Recluso
O Dicionário do Recluso encerra as vozes e as histórias de homens que se encontram detidos na cadeia de Turim, Estabelecimento Prisional Lorusso e Cutugno, Ala V do Pavilhão C, destinada aos “presos protegidos”. Nasce de um laboratório de escrita realizado no interior da prisão durante dois anos.
Todos nós sabemos o que querem dizer “casa”, “inverno”, “amor”, e o seu significado é absoluto. Mas na cadeia o significado das palavras muda, e essa mudança nasce do espaço: lá dentro só existe o dentro, e as palavras tornam-se pré-históricas. Quer isto dizer que é como se estivessem paradas num tem...
Translated from
IT
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PT
by Vasco Gato
Written in IT by Sara Micello
Jericó
Parte I – A Quinta
[...]
I
[...]
A quinta, como lhe chamavam, erguia-se solitária num planalto no cimo de uma colina baixa. Era uma casa rural com dois pisos, uma construção de madeira, retangular, estreita e comprida.
Do janelão do piso superior, sentado na cadeira de balouço, no corredor, Jens observava o campo que se estendia para lá do rio. Os seus pequenos olhos pretos não paravam de se mexer, explorando o horizonte envolto na escuridão, atentos a qualquer pormenor suspeito. Elia e Natan estavam sentados no chão, ao seu lado, a brincar com carros em miniatura enferrujados.
Ouvia-se ...
Translated from
IT
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PT
by Vasco Gato
Written in IT by Fabrizio Allione
A Alameda do Amanhecer
Cada homem goza de direitos, porém estes direitos são divinos, e não pode ser de outro modo, numa última frase, não é obrigatório que esta frase seja longa nem semelhante a um bilhete de despedida, o que conta é que seja verdadeira, com uma verdade que a preencha, mesmo que seja a última, porque a verdade tem o hábito de ser caprichosa, o que não significa que não exista, existe seguramente e deve ser revelada, mas não num conto, o conto contém a sua verdade intrínseca, não a mesma da verdade verdadeira nem menos, mas esta frase é minha por direito para uma história e segui-a até ao fi...
Translated from
RO
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PT
by Simion Doru Cristea
Written in RO by Andrei Crăciun
Mas a casa ainda mora em mim
Um batismo. Um novo começo. Uma capa preta por cima dos meus ombros, como um manto cerimonial. Ela pega na minha cabeça e inclina-a, cuidadosamente, para trás. A água parece muito mais suave do que a água do meu duche em casa. As suas pontas dos dedos massajam o meu couro cabeludo. A minha cabeça. Esta minha cabeça. Esta cabeça sem a qual não posso viver. Esta cabeça pesada. Esta cabeça que se anuncia. Esta cabeça em que pensamentos. Sempre pensamentos sem aviso prévio. Pensamentos que nunca cessam. Fecho os olhos e tento imaginar que, juntamente com a minha cabeça, ela também massaja o...
Translated from
NL
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PT
by Pedro Viegas
Written in NL by Maud Vanhauwaert
Os Pandas de Ueno
Desde que as crianças nasceram, ou talvez desde que eu me inscrevera nas redes sociais, ou ainda desde que o trabalho me obrigava a comunicar de forma clara e atrevida, a fazer no fundo referência a coisas conhecidas, em vez de as inventar, dividia o meu tempo em tempo verdadeiro, ou seja, aquele que podia relatar a mim mesma na minha língua verdadeira, e tempo falso, ou aquele em que tinha de falar por categorias, segundo códigos ou por emulação de atitudes.
Lia nos romances acerca de homens tenazes e voluntariosos que se levantavam às quatro da manhã, tomavam duches frios, e às seis já esta...
Translated from
IT
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PT
by Vasco Gato
Written in IT by Arianna Giorgia Bonazzi
Para não Te Ver
Já sabes que levei os miúdos, as roupas, as coisas do banho, a comida biológica dividida em pequenas porções dentro de tupperwares de cores berrantes como as da Benetton, levei também os livros deles, porque de noite é só pela leitura que consigo convocar o sono do Rogério, e não raras vezes ele acorda horas depois com um pesadelo a esganar-lhe a maçã-de adão, e eu abraço-o, como te abraçava, Rita, quando fazíamos um ninho tão perfeito que quem nos visse de cima poderia facilmente confundir-nos com um daqueles símbolos chineses a preto-e-branco onde se vêem explicados a imortalidade e o...
Written in PT by Valério Romão
O Comunismo Visto por Criancinhas
Tenho quatro anos e nunca subi mais além do primeiro andar. Estou convencido de que a serpente azul do corrimão é infindável, que ela sobe, sobe e sobe, rebenta o teto de alcatrão do nosso prédio e avança invisível até ao céu. É um pensamento que não partilho com ninguém. O meu medo aquece-se na chama deste pensamento.
As pessoas descem dos andares superiores, lá do céu, por vezes falam entre elas em surdina e não oiço o que dizem. Mas nunca há um silêncio combinado entre elas. Nunca há silêncio. Os murmúrios flutuam de uma para outra. São como algumas abelhas ou talvez como algumas mo...
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RO
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PT
by Simion Doru Cristea
Written in RO by Andrei Crăciun
O metro
Na segunda-feira de manhã ouvi o metro chegar à estação no momento em que introduzia o bilhete na máquina e, embora ainda não estivesse atrasado e mesmo que estivesse, não havia problema, embora estivesse abraçado pelo desejo absoluto de apanhar aquele metro, um desejo não tanto como uma vontade, mas como um anseio bizarro de vingança, lançou-se pelas escadas abaixo. Aconteceu algo muito curioso. Assim como se diz que quando se morre, toda a vida te passa pela frente dos olhos, naqueles breves segundos de que precisou T. para saltar os degraus, toda a sua vida lhe passou pela mente a uma veloc...
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RO
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PT
by Simion Doru Cristea
Written in RO by Cătălin Pavel
Mudança
— Apanhe o elevador, eu vou a correr pelas escadas — grita o jovem médico descendo rapidamente escada abaixo, saltando vários degraus de uma vez. Não conseguir não é uma opção.
Algumas semanas atrás, ainda no puerpério, a mãe relatou ao pediatra: o bebé não para de chorar. Na primeira consulta ouviu: amamente-o bem e vai acalmar-se. Na segunda clínica ouve: são cólicas, deixe de comer fritos, a qualidade do leite vai melhorar e o bebé vai deixar de chorar tanto.
No gabinete privado, o médico pôs-se a rir:
— Porque não haveria de chorar? É um bebé.
Os pediatras estavam calmos, mas o choro d...
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PL
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PT
by Katarzyna Ulma Lechner
Written in PL by Joanna Gierak Onoszko
Todas as pessoas se tornam irmãos
Quando vi o Andrei afastar-se, comecei a gostar dele. Vi a sua mochila preta a abarrotar que ele transportava como um escudo sobre as costas. A mochila estava tão cheia que se percebia logo que ele não estava a caminho de nada, que não ia a lado nenhum. Se tivesse ido para as montanhas assim, a mochila ia desequilibrá-lo, podia puxá-lo para trás, e lançá-lo no abismo. Os fechos éclair da mochila estavam velhos e parecia que iam rebentar a qualquer momento. Eu imaginava que a mochila ia abrir-se de repente, como um airbag, uma almofada de ar que começava a crescer, cada vez maior, e que se tran...
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NL
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PT
by Lut Caenen
Written in NL by Yelena Schmitz
Chiclete Blues
23,40 euros. É esse o montante que figura, em algarismos verde-alface, na registadora do guiché. Umas mãos pálidas e enrugadas colocam cautelosamente, uma por uma, as moedas amarelas e castanhas na gaveta do dinheiro, ao lado de uma nota de vinte euros. Logo a seguir, as mãos fecham a pequena carteira em pele, ao mesmo tempo que uma voz condicente de senhora emite sons apaziguadores.
— Calma, também te vão dar um bilhete — cochicha a senhora ao seu cão, que, tal como ela, permanece fora do alcance do nosso olhar. Quando a gaveta se volta a abrir, as moedas desapareceram e, no lugar del...
Translated from
NL
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PT
by Xénon Cruz
Written in NL by Carmien Michels
Sónia levanta a mão
Por estes lados, as pessoas são muito desconfiadas. Mas não se sabe se noutros sítios a iriam receber de braços abertos. As pessoas do lado dele. Os do outro grupo. Não conhece, no círculo dela, casais das gerações anteriores, em que os dois sejam amigos, e não inimigos, mesmo que fiquem juntos até à velhice. Algures no mundo talvez existam os que ainda ficam amigos a vida toda e para além dela, mas são poucos, extremamente sortudos e bem escondidos aos olhos dos outros, de tal forma, que, olhando à tua volta, tu, jovem, possas estar quase convencido de que quem está ao teu lado chegará a dest...
Translated from
RO
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PT
by Cristina Visan
Written in RO by Lavinia Braniște
Perguntem ao Relâmpago
Não era a minha intenção causar um burburinho. Mas de repente assim foi. Falei na escola sobre o acidente de viação e uma coisa levou à outra. Estava pela ponta dos cabelos com os exames, de maneira que nunca conseguia acordar a horas, embora me propusesse sempre na véspera de cada prova a folhear atentamente tudo aquilo que ainda não tinha aprendido. Depois do bipe irritante do despertador da minha mãe, que tinha de estar bem mais cedo no emprego, voltava sempre a cair num sono profundo, tão profundo que mal ouvia o meu próprio alarme. O meu pai vinha-me então tirar do ninho mesmo a te...
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NL
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PT
by Xénon Cruz
Written in NL by Carmien Michels
Comunhão
— Será aqui?
— No papel está esta morada, não te diz alguma coisa?
— Eu lembro-me disto como um descampado. Teria sido mais fácil com o nome do restaurante.
— Deu-to quando te ligou.
— Tem de ser aqui. Há muitos carros — respondi, pondo o sinal intermitente, decidido a estacionar.
— Telefona à tua irmã e tiramos as dúvidas.
— Não o guardei porque pensava que não vínhamos. Nem sequer conheço a criança.
— Tiveram a gentileza de nos convidar. Pode ser uma boa altura para tu… Já sabes…
— Já sei. Já sei — interrompi-a, sem vontade de mais reprimendas. — Que horas são?
Luz tirou o conju...
Translated from
ES
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PT
by Matias Gomes
Written in ES by Roberto Osa
Com as aves, partilho o céu
Às vezes, torna-se insuportável. Manducam tão alto que me despertaram. E não só, também discutem quem terá o bocado mais saboroso e não me deixam adormecer. Tudo se ouve, embora haja vidros duplos nas janelas e as esquadrias isolem bem. Um quer sementes de abóbora, outro de linho, porque estalam tão entusiasticamente, os mais pequeninos querem, sôfregos, as migalhas de pão. As fêmeas não querem, de maneira nenhuma, o bolo de sebo. Quem diria que os tordos-comuns, os pintarroxos, os chapins-azuis e os verdilhões não queiram encher o seu aparelho digestivo com absolutamente nada do que lhe...
Translated from
SL
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PT
by Barbara Jursic
Written in SL by Agata Tomažič