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Original text "Upřímně, miláčku, je mi to fuk" written in CZ by Lucie Faulerová,
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Lada Weissová

Proofread

Paulo Capinha

Published in edition #2 2019-2023

Francamente querida, tanto me faz

Translated from CZ to PT by Stepanka Lichtblau
Written in CZ by Lucie Faulerová

O Marek faz-me cair na cama e pelo seu rosto passa-se algo que combinado com o seu aperto, me faz perder completamente a orientação, como se a nossa cama fosse uma avalanche em que ele me afundou e eu esquecia onde é em cima e onde é em baixo. Tudo isto dura apenas um segundo, esse aperto e essa sua expressão, no momento seguinte saca-me da avalanche, e ainda que eu permaneça na posição horizontal, já me é perfeitamente claro onde é em cima e onde é em baixo. E só agora atinjo, mas mesmo assim apenas em contornos, agora me apercebo dessa ideia, que dispara pela minha cabeça como se alguém acendesse rapidamente a luz e depois a apagasse ainda mais depressa. E vocês sabem que notaram algo, só que não têm a certeza do que foi, e esse algo não desaparece com a luz apagada, mas mantém-se algures aqui no espaço. Procuram-no em vão, e quanto mais tempo passou, mais se perguntam: E foi mesmo alguma coisa? Ou tão só uma ilusão ótica? Vagueio por este túnel desagradável sem luz ao fundo, o meu cérebro não consegue de todo compilar toda a informação num código compreensível. É um código secreto, zeros e uns, mas o que tenho a ver com zeros e uns, o que tenho eu a ver com eles?!

Preciso de rebobinar isso tudo. Parar. E ampliar. Verificar esse colapso gravitacional instantâneo. Uma composição de algo estranho num corpo tão familiar. Uma nuance que não consigo nomear porque não consistia em nada específico, não, nenhuma careta, piscadela ou ruga do nariz, nem na localização daquele aperto, não, nada disso. Mas foi alguma coisa. Algo! Sim, algo, e era algo estranho. Foi algo...? E se eu estiver completamente errada... paranoica, porque ele não esteve tantos dias em casa e porque os meus sentidos nem sequer tiveram tempo de se acostumar à sua presença, enquanto ele já todo excitado me pressiona para si. Não sei. Túnel.

Mas o Marek já está a pôr o seu braço junto à minha cabeça, a língua dele deixa um rasto molhado e quente no meu pescoço, e sei que já é demasiado tarde e longe, pois pelo espelho retrovisor não consigo aferir se atropelámos um gato ou um velho trapo. Em vez disso, o meu corpo e a minha cabeça formigam vagamente e não dá para fazer nada. Bem, algo dá. O Marek esfrega a cintura dele na minha e atinge a minha virilha direita através das calças. A mão dele indaga pela minha pele por debaixo da camisa e a sua respiração ofegante afoga-se algures entre a minha orelha e a almofada. E eu penso nos zeros e nos uns, penso nessa constelação alguns momentos atrás e se devo pará-lo agora e contar-lhe o que vi e senti, mesmo que nem sequer eu saiba o que era, ou se foi, ou se devo continuar nisto que estamos a fazer. Continuo a ponderar a decisão e ao mesmo tempo levanto automaticamente a minha pélvis para lhe facilitar a tirar as minhas cuecas.

E então lembro-me da Eliška. Vejo-a com metade da cara escondida atrás de uma garrafa de prosecco, a dizer: "Foi uma experiência bastante estranha, não sei... Foi como se eu tivesse ido para a cama com outro".

"Bem, ele não estava nele, pois", digo eu. Pode muito bem acontecer que por vezes ele esteja com a cabeça na lua..."

A mão do Marek coloca a minha nas boxers dele.

"Não, não é isso que quero dizer, não foi nada disso. Ele não estava assim, dessa forma... Pelo contrário." Eliška respira fundo e pega na garrafa para atestar novamente enquanto diz: "Ele ficou alterado e fora dele."

Ele mordisca-me levemente no mamilo, dói um pouco. Mordeu-me alguma vez o mamilo? Não me consigo lembrar!

"E porque é que isso te chateia? Até podes estar na maior, né?" Tentei animá-la com a situação, mas a Eliška não achou piada.

"Não me chatearia se… não fosse tão diferente… não sei..."

"Quiçá tenha acabado de ver porno. E queria era experimentar".

O corpo do Marek está a ficar pesado.

"Não compreendes", acenou ela com a mão. "Não sei... eu só..." Vi como a Eliška lutava com os pensamentos e palavras na ponta da língua, mas no final ela não concluiu a frase. Perdeu a luta. Embora fosse claro para mim qual pensamento a incomodava, e era claro para ela que era claro para mim – ela nada disse em voz alta. Acho que sei porquê. Por vezes as coisas tornam-se reais apenas por serem ditas em voz alta.

O Marek está entrando em mim como um peixe. E nesse momento é ele, o meu Marek, desta vez sem dúvida que o conheço. Pois é precisamente nestes momentos que o acho sempre bastante vulnerável. Indefeso. Um rapazinho que precisa rápido, rápido de se esconder. Está dentro de mim e de repente os seus movimentos param e eu enrolo as minhas coxas à volta dele. Estou meia excitada e meia ainda no túnel.

É curioso que não me lembro de ter falado novamente sobre aquilo com a Eliška. Ela nunca mais falou no assunto e eu não lhe perguntei mais. Foi como se nunca tivéssemos falado sobre tal coisa. E além disso, talvez fosse como se na sua mente nunca tivesse sequer vivido aquela estranha experiência com o seu marido.

Vou pelo túnel, vou pela escuridão total, nada à minha frente, mas quando me viro, há algo atrás de mim que se move. Olho para trás e consigo muito nitidamente ver as escadas e nelas o Clark Gable. Ou seja, Rhett Butler, segurando numa mala que lhe está a ser arrancada da mão pela Scarlett O'Hara desfigurada pelo choro. Difícil dizer o que isto faz aqui no túnel, mas lembro-me exatamente da cena. Eu tinha poucos anos quando o vi, provavelmente ainda não andava na escola, a minha mãe cozinhava o almoço enquanto a pequena televisão sobre o frigorífico passava «E Tudo o vento levou». Eu brincava ou pintava atrás da sua velha máquina de costura, observando, toda fascinada, a cena. Talvez estivessem a discutir – era o que eu pensava, mas não tinha a certeza. Porque se eles estavam a discutir, discutiam de uma forma muito diferente da dos meus pais. A minha mãe nunca suplicou como a Scarlett, e o meu pai nunca fez aquela careta distante como o Rhett. Não me lembro do que disseram um ao outro, não sei se atribuí algum significado às palavras na altura, apenas me lembro da estranha energia que pude sentir a partir dessa cena. E também que ela chorava e perseguia-o continuamente, enquanto ele a media com o seu olhar sobranceiro de raposa, não se tentava soltar dela agressivamente nem lhe gritava, apenas abrindo caminho com a sua mala até à saída. Até que no final partiu mesmo. Comecei imediatamente a pedir colo e a perguntar à minha mãe se ele se estava a divorciar dela. A minha mãe disse que não, que apenas saiu.

"Mas eles tiveram uma discussão!"
"Isso é porque ela vai sentir a falta dele".
"E então para onde é que ele foi?"
"Bem, onde, onde... trabalhar".
"E para que levou a mala"?
"A mala? Bem, ele tinha-a porque ia numa viagem de negócios".

Acho que estava com certas dúvidas, mas acabei por comprar a explicação que a minha mãe vendera. Ou melhor, queria comprar-lha. Talvez a tendência de se deixar iludir calma e conscientemente esteja na natureza das pessoas desde tenra idade, apenas para não se preocuparem, para as suas cabeças se livrarem de dúvidas.

A cabeça e o tronco do Marek erguem-se ligeiramente enquanto ele se endireita um pouco sobre mim. Ordena-me que me vire. Olho-o tentando-me lembrar se isso disse o meu Marek que eu conheço, ou o Marek que, tal como há poucos dias – talvez ontem, papava outra pessoa. E se ele não quiser olhar-me na cara? Mas afinal em vez de mim quer imaginar outra pessoa. O Marek repete a ordem e eu fico de quatro, à espera que ele se apodere de mim nesta posição.

Talvez pareça que naquele túnel encontrei Rhett Butler e a tal mentira feia da minha mãe precisamente porque o Marek acabou de chegar a casa após tantas semanas. Mas duvido, não, não é por isso que o Rhett está ali especado com a mala, que à minha frente não corre escadas abaixo, nem por isso que me enfrenta com um olhar de raposa... Há-de haver qualquer outra coisa, porque a minha história do «E Tudo o vento levou» – ou melhor, a da minha mãe, não acaba aí. Cerca de treze anos mais tarde, era eu já finalista no liceu, tive de fazer com uma colega de turma um trabalho de história sobre a Guerra Civil Americana. Seria difícil não usar como referência o livro e o filme, o qual aliás já não via desde os meus cinco anos e sei que nunca mais o voltarei a ver. E foi a colega de turma a referir que foi a última frase do Rhett Butler que perdurou. Claro que não fazia ideia do que ela falava.

"Bem, ela lá está a implorar-lhe e a suplicar-lhe que não a deixe, e depois diz-lhe – o que farei eu sem ti? Como é que consigo viver agora? ... Mais ou menos assim... Bem, ele olha para ela e diz: "Francamente querida, tanto me faz". "Espera, espera," disse eu, "como assim, que não a deixe... ele foi para o trabalho..." A minha colega olhou para mim como se eu fosse uma idiota. "Para que trabalho?"

A mão direita do Marek agarra a minha mama e a esquerda cai na minha anca.

Para que trabalho, para que trabalho, encolhi os ombros e já estava pronta para ripostar com a viagem de negócios, foi por isso que ele tinha a mala, mas felizmente apercebi-me de tudo antes de o dizer em voz alta. Que disparate! Rebentei em lágrimas. A minha colega não compreendeu nada, não a culpo. A minha mãe já estava morta nessa altura, por isso não a pude confrontar com a mentira, culpo-a. Talvez tivesse conseguido superar isso e como adulta dizer a mim própria – a minha mãe estava apenas a ser gentil comigo na altura, não queria que eu sentisse pena da situação. Mas eu não consegui de todo vê-lo dessa forma. Talvez ela não se importasse comigo, mas apenas com a sua própria paz de espírito, pois sabia que se confirmasse os meus receios, eu poderia ter chorado o dia todo, já que os filmes tinham esse efeito em mim. Talvez ela não me tenha contado a dura verdade porque queria acabar o molho de tomate em paz e não limpar o meu ranho. Mas ela não se apercebeu de tudo o que causara! Eu teria vivido o resto dos meus dias em ilusão total! E a culpa seria só dela! Porque a minha intuição já naquela altura me sussurrava qual era a verdade. Mas eu em vez disso, deixei-me enganar. Trair. E após todos estes anos, a verdade vem de repente à tona! Mas que faço agora com ela?! Que fazer, com esta verdade?! Para quê! Zeros e uns.

Quem me dera nunca ter feito esse trabalho escolar.

O suor do Marek pinga nas minhas ancas. Trabalhamos como uma máquina perfeitamente afinada. Viro a cabeça sobre o ombro, quero olhá-lo agora. Ele apanha o meu olhar e agarra-me firmemente com as duas mãos por cima do rabo. Viro-me para trás. Os movimentos do Marek aceleram. E depois param.

Um suspiro de alívio algures acima de mim.

O aperto dele afrouxa e eu caio sobre a barriga. O Marek cai sobre mim.

Ofega. Ofego.

Olho novamente para Rhett Butler, de pé à entrada da porta, mala na mão. Ele sorri-me. Eu aceno-lhe adeus. Pois partirá numa viagem de negócios.

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