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Original text "Lampi" written in IT by Sara Micello,
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Paulo Capinha

Mentor

Paola D’ Agostino

Published in edition #2 2019-2023

Clarões

Translated from IT to PT by Vasco Gato
Written in IT by Sara Micello

Numa coletânea de ensaios intitulada O Zen e a Arte da Escrita, Ray Bradbury escreve que, dos vinte e quatro aos trinta e seis anos, passou o tempo a anotar listas de substantivos. A lista dizia mais ou menos assim:

O LAGO. A NOITE. OS GRILOS. A RAVINA. O SÓTÃO. O RÉS DO CHÃO. O ALÇAPÃO. A CRIANÇA. A MULTIDÃO. O COMBOIO NOTURNO. A SIRENE DOS NEVOEIROS. A FOICE. O CARNAVAL. O CARROSSEL. O ANÃO. O LABIRINTO DE ESPELHOS. O ESQUELETO.

Ultimamente, aconteceu-me uma coisa semelhante.

Vivi numa família que me proporcionou uma boa educação e uma boa forma de estar no mundo, mas ultimamente tenho pensado com insistência nalgumas coisas. Muitas ficaram e ainda me assustam da mesma maneira.

Entre elas está um acidente, uma máscara do Zorro, os animais embalsamados em frascos nas prateleiras da minha escola, um tiroteio, a morte fingida da minha irmã, a porta da nossa antiga casa e poderia continuar. São clarões que regressam ao meu eu atual e me lançam para uma divisão secreta. Às vezes fico bastante tempo nessa divisão, noutras vezes pergunto-me por que haveria de ficar e detenho-me. Mas o que me fascina é o mistério que essas cenas trazem consigo. Num certo sentido, seria melhor deixá-las assim, mas noutro a vontade de me aproximar da chama é tão incontrolável que não importa saber que irei queimar-me. Pois é isso que acontecerá, e de que maneira. A questão é mesmo essa.

Num passo da sua coletânea, Bradbury escreve: «Listas assim, dragadas do fundo do nosso cérebro, podem ajudar-nos bastante a descobrirmo-nos a nós mesmos».

Nunca ninguém disse que era fácil e — convenhamos — arriscamo-nos a provocar-nos grandes queimaduras.

Bradbury fala de uma ravina, perto da casa onde vivia em pequeno: «E queria lembrar como era a ravina, especialmente nas noites em que voltávamos tarde para casa, [...] e o meu irmão Skip ia a correr à frente e escondia-se atrás da ponte sobre a ravina, [...] e saltava cá para fora e agarrava-me, aos gritos, e eu corria e caía e continuava a correr, gritando coisas incompreensíveis até casa».

Não conheço essa ravina, mas conheço o instinto de «correr e cair e continuar a correr» e esse instinto vibra. Estou capaz de apostar que vibrará para todos nós.

«Corria, subia. Mas, não havia nada a fazer, no último instante piscava sempre os olhos e fixava a horrível escuridão. E ela estava sempre lá».

A questão é desenterrar, escavar como primitivos no nosso passado. Se estivermos dispostos a fazê-lo, se conseguirmos de facto olhar estas coisas diretamente nos olhos, não poderemos imaginar as minas ativadas que nos esperam.


*


A casa do meu tio e da minha tia ficava no meio da aldeia. Fazia parte de uma dessas urbanizações geminadas, em que as casas são todas iguais e estão coladas umas às outras. A zona ficava nas imediações do campo desportivo, a aldeia terminava do lado direito e as traseiras das casas estendiam-se até campo aberto. Havia aí uma série de ervas daninhas e ramos queimados que se esboroavam como bolachas de água e sal. Às vezes, os sapatos, calcando-os, levantavam uma poeira acastanhada. Nunca ninguém se dera ao trabalho de fazer uma limpeza e a vista não era nada de especial. Mais ao longe, havia pneus abandonados que todos os Verões o sol gretava à superfície. Do lado de cá, via-se a casa do meu tio e da minha tia, numa ruela em que os carros entravam a custo, parecia sempre que iam ficar lá encravados. Por vezes, a ruela estava toda ocupada e víamo-nos obrigados a procurar um outro lugar.

As casas da zona não eram muito grandes, mas primavam pela discrição, pelo menos tinham paredes grossas e era difícil ouvir barulho. O silêncio abundava, não fosse as linhas da estação passarem do outro lado da rua.

De certa forma, não percebo como é que o meu tio e a minha tia conseguiam viver ali, com essa mudança sempre à espreita. O comboio passava de madrugada e certas vezes noite funda até, eram os momentos em que mais se ouvia. Talvez porque o silêncio fosse tanto e ele chegasse como uma pancada. Imaginava-o enorme, com um grande ruído de sucata. Não era dos modernos, a linha-férrea da aldeia ligava estações próximas e os comboios muitas vezes andavam a cair aos pedaços. As pessoas apanhavam-nos quando não tinham outro meio de transporte, ou a rapaziada enchia-o no verão para ir até à praia. O meu tio e a minha tia conheciam os horários em que a passagem de nível baixava, e sempre que o comboio passava parecia que a casa ia ruir. A sua chegada ribombava nos ouvidos e parecia que o chão começava a ferver, parecia que ia partir-se debaixo dos nossos pés. Quando estava muito perto e passava junto da casa, as janelas tremiam, era uma espécie de terramoto. A parte onde se sentia primeiro era no quarto. Depois deslocava-se para a casa de banho, eu achava que ia mandar a parede abaixo, arrasando o pavimento e tudo o mais. Acreditava mesmo que sim de todas as vezes.

A casa tinha um jardim fechado de um lado por um murete de pedra solta. O meu tio cavara um espaço para cultivar as plantas. Muitas eram suculentas, enquanto a hera trepava pelo murete. O murete era baixo, do outro lado passavam os carris longuíssimos. Estavam mesmo colados a nós, com o cascalho e as ervas daninhas.

Quando o comboio passava, havia um ritual, eu sustinha sempre a respiração porque tinha a inteira certeza de que não nos safaríamos. Já ele estava-se nas tintas para nós. O que me fascinava, sobretudo de noite, era pensar na estação e no que poderia existir debaixo dos carris. O comboio era capaz de esmagar o que quer que fosse e fascinava-me pensar no que estaria a acontecer lá fora e como se deslocaria a escuridão. Lá fora não havia nenhum abrigo e todas as coisas tinham de se haver com o comboio. Ficava preocupada por elas e pensava no que poderia suceder quando ninguém estivesse a olhar.


*


No verão, quando o sol começava a descer, púnhamo-nos no passeio em frente, sentados nos degraus enferrujados de uma grande porta em arco. A porta era de um castanho compacto, parecia terra, e no centro destacava-se, em relevo, a cabeça de um leão. Não sabíamos quem vivia para lá daquela porta, nem nunca a vimos abrir-se. Até ser de noite, ficávamos naqueles degraus enferrujados. Debaixo das mãos, a ferrugem colava-se em quadradinhos pretos, esfregávamo-la para a tirar, e isso fazia com que nos sentíssemos importantes.

Em redor, as portas das casas mantinham-se abertas e a nossa mãe, sentada ao ar livre, observava-nos.


*


Era antes do jantar e reinava um silêncio estival, ouvia-se pássaros de vez em quando, talvez fossem mochos. Não muito longe, pela nacional, passavam poucos carros. Eu e a minha mãe estávamos à espera do meu pai. Ela estava sentada numa cadeira de praia debaixo do alpendre. Envergava um vestido às flores e estava a comer um pepino. Pôs-se de pé e organizou as cadeiras à volta da mesa, ia começar a cozinhar. Tirou os bifes do congelador e lavou umas quantas folhas de alface. De vez em quando olhava para o portão. O portão da nossa casa é de ferro batido e está pintado de verde. É demasiado alto para se saltar por cima dele e é um portão automático acionado pelo botão de um comando à distância. Sabemos que alguém chegou pelos faróis que se entreveem através das redes.

O ar enchia-se de grilos que cantavam, ainda consigo ouvi-los. Mais ao longe, o campo estava em silêncio. A minha mãe acendeu o televisor. Não dizia uma palavra e eu andava atrás dela. Às vezes debruçava-se ao fundo da alameda e esperava. Depois voltava e recomeçava a fazer as suas coisas. Também eu me abeirava e esperava.

Não sei quanto tempo teremos ficado assim. Não dizíamos nada uma à outra, e o televisor continuava a falar em pano de fundo. Ela ia dando uma olhadela, ouvia uma piada e depois virava-se. Nessa noite, o silêncio era próximo, parecia o fim de qualquer coisa. Vinha das panelas um cheiro a carne vermelha e o vapor dispersava-se pelo ar livre. A minha mãe baixou o lume até o apagar e olhou para o portão. Eu estava a olhar para ela.

Foi então que o vi. Vi-o no prado, escondido entre os pinheiros, a pouca distância. A minha mãe continuava a movimentar-se entre a mesa e as panelas ao lume, e talvez não se tivesse apercebido disso. Eu não lhe dizia nada com o medo de que ela sofresse um baque, mas esperava que ela ficasse onde estava e que o meu pai regressasse. Não me mexia, mas sentia-o a intrometer-se. Fazer barulho para o afastar não teria valido de nada. Sabia que estava ali e queria dar cabo dela. Não sei durante quanto tempo a seguira, tanto podia ser meia hora ou menos, ou talvez mais. Olhava para o vestido dela e depois para os cabelos, e para tudo o que lhe pertencia. As vozes prosseguiam no televisor. Os grilos nos campos estavam mais insistentes. O céu estava escuro e era verão, embora não estivesse um calor de morrer. A minha mãe olhava para o nosso portão fechado.

Talvez ela não se tivesse apercebido, mas continuo a pensar que não estávamos sozinhas nessa tarde. Não sei o que me terá parecido ver no prado, mesmo perto de nós. O que gostaria de saber — do fundo de mim mesma — é se também ela percebera, se se dera conta de que não estávamos sozinhas. Eu não tinha dúvidas de que ele estava a dois passos e viera buscar-nos. Nessa tarde, tive medo de que estivesse justamente à nossa procura e de que não se fosse embora de mãos a abanar.

Até que, de repente, desapareceu. Terá vindo de algum lado e alguém o terá enviado. A verdade é que, se tivesse querido, poderia ter ficado.

Algumas noites depois, eu estava com umas amigas a regressar de uma festa. Já estava escuro e os carros aceleravam pela nacional. Ouvíamo-los a passar e a sacudir o nosso. Enquanto seguíamos pela estrada, vimos luzes a piscar. Alguém estava a fazer-nos sinal para abrandar e passar ao largo pela faixa contrária. Vi-o de novo por um instante. Contornámos um carro esventrado. A capota estava amarfanhada, parecia uma lata de tomate vazia e estavam lá os bombeiros e a ambulância. Não sei se haveria pessoas feridas ou sangue, mas algo me leva a crer que sim. Enquanto avançávamos devagar e olhávamos para o interior daquele carro, o silêncio abateu-se sobre nós, parecia o fim de uma batalha. A minha amiga que ia ao volante começou a dizer que tivéramos sorte, «bastava um segundo antes para que nos calhasse a nós», repetia. Nessa noite, a estrada estava escuríssima, e eu sabia que ele nos poupara outra vez.

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