João Valente is a Portuguese writer, born in Lisbon. He holds a Degree in International Relations from the University of Lisbon, Portugal, and a Master of Arts in European Studies from the College of Europe in Brugges, Belgium. He has always written short stories. In 2014 he was considered one of the FNAC’s New Talents in Literature, with one of his short stories appearing in the FNAC’s popular anthology. His first novel, The Empire, was published by Topseller in 2016. It is a fictional biography of a rock band that headlined the world’s greatest festivals, mixing real life events, personalities and brands with a fictional narrative and made up characters. It was shortlisted for the Chambéry First Novel European Award and it will be published in Mexico by Paraíso Perdido. He regularly writes content for news and online marketing agencies. He is currently working on his second novel and on a weekly fiction podcast.

Finalmente tens um quarto só para ti

Estou desconfortável, mas sem arriscar mexer-me para não te acordar.  Alongo as costas e atenuo a moinha. Estou meio sentado na borda da  cama, deixando o colchão à tua disposição. Caíste num sono profundo e  aproveito para te afagar os cabelos com meiguice. Não gostas que o faça  quando estás acordado.   Era no sofá que me desforrava. Nos momentos em que quase  adormecias, embalado por um dia de correrias e brincadeiras, punha-te a  ver desenhos animados. Nessa altura, enchia-te de cafunés. Aceitavas os  meus mimos por estares num estado de semiconsciência. Deixavas-te estar,  chuchando ruido...
Written in PT by João Valente

A ponte

Todas as estações de comboio têm um relógio. Na verdade, têm mais do  que um. Em cima da bilheteira fica o principal. Depois, na gare de  embarque, estão os mais pequenos. Os úteis, pois são cúmplices da nossa  preguiça em tirar o telemóvel do bolso ou consultar o relógio de pulso.   As crianças ficam fascinadas por estes relógios. Como o ponteiro  dos segundos roda sem parar, acaba por ser o único momento em que  conseguem ver o tempo a passar. Olham o ponteiro a subir e, à medida que  se verticaliza, os seus coraçõezinhos batem mais depressa e os olhos  esbugalham-se. Quando, por fim, o indi...
Written in PT by João Valente